Que Brasil é este?

09-05-2011 09:55

 Exposição reúne obras da pintora Tarsila do Amaral e de expoentes do modernismo, chamando a atenção para a brasilidade e seus variados enfoques. Mostra na Casa Fiat conta com 139 trabalhos

Mariana Peixoto (Cultura Estado de Minas) 

Uma obra facilmente reconhecível, de imagens fortes, muito associada à identidade brasileira. Parte do legado de Tarsila do Amaral (1886-1973) – 29 quadros, entre pinturas e desenhos – foi reunida para a exposição Tarsila e o Brasil dos modernistas, que será aberta amanhã para o público, na Casa Fiat de Cultura. Realizada pela instituição e pela Base7 Produções Culturais, a mostra, que tem apoio do Estado de Minas, apresenta ainda trabalhos de 10 contemporâneos da pintora, entre eles Di Cavalcanti, Candido Portinari e Lasar Segall.

A ideia inicial era conceber uma exposição que se debruçasse unicamente sobre o trabalho de Tarsila, autora do mítico Abaporu (que não veio a BH), talvez o quadro brasileiro mais popular, tanto aqui como no exterior. Foi da coordenadora da mostra, Regina Teixeira de Barros, também curadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo e professora de história da arte, a sugestão para que a discussão suscitada pelo legado da autora modernista se estendesse a outros artistas. “Em toda a sua obra, a Tarsila se concentrou na busca da brasilidade. Ela traduziu em imagem uma ideia abstrata do que era o Brasil. Queria ver como seus contemporâneos solucionaram esse problema”, explica.

Regina formou três grupos. No primeiro estão ainda Di Cavalcanti e Candido Portinari, que, assim como Tarsila, dedicaram a vida a pensar o Brasil. O segundo reúne aqueles que tiveram o país como tema de parte de seu trabalho: Victor Brecheret, Vicente do Rego Monteiro, Cícero Dias e Lasar Segall. Por fim, estão artistas nunca associados à questão brasileira, mas que buscam expressar seu olhar sobre a realidade do país: Ismael Nery, Oswaldo Goeldi e Flávio de Carvalho. “Guignard transita entre o segundo e o terceiro grupo. Ele pintou e desenhou os lugares por onde andou (Rio de Janeiro e Minas Gerais), mas não acho que estava em busca de uma brasilidade.”

Quatro eixos temáticos estão na exposição. Paisagens litorâneas abrem a mostra, com ênfase para várias pinturas de Tarsila. Na sequência, são apresentados tipos brasileiros. “Para poucos modernistas o homem brasileiro é o índio. A maioria retrata o mestiço, seja ligado ao interior, à terra ou aos morros”, continua Regina. As mulheres de Di Cavalcanti – “moças e prostitutas alegres, descontraídas, sem dramas” – se destacam nesse setor.

O terceiro eixo, paisagem do interior, traz desenhos de Tarsila feitos nas cidades de Juatuba, Carmo da Mata e Ouro Preto – resultantes da conhecida incursão que ela e modernistas fizeram em Minas Gerais na década de 1920. Por fim, a exposição engloba trabalhos que remetem a alegorias, com interpretações fantasiosas do país. Nesse grupo estão, por exemplo, as chamadas paisagens imaginantes de Guignard, trazendo lugares que não existem, mas, mesmo assim, têm algo de Brasil.

A exposição é desdobramento do catálogo raisonné de Tarsila do Amaral, cuja pesquisa foi coordenada por Regina. Mesmo com obra tão sólida, a artista plástica, de acordo com a curadora, não teve seguidores. Mas deixou muitos admiradores. 

TARSILA E O BRASIL DOS MODERNISTAS

Casa Fiat de Cultura, Rua Jornalista Djalma Andrade, 1.250, Nova Lima. De amanhã a 10 de julho. O espaço funciona de terça a sexta-feira, das 10h às 21h; sábado, domingo e feriado, das 14h às 21h. Há transporte gratuito saindo da Praça da Liberdade. Entrada franca. Informações: (31) 3289-8900 e www.casafiatdecultura.com.br. Agendamento para grupos e escolas: (31) 3289-8911.

 
EM DEBATE

Durante o período da mostra haverá ciclo de palestras abertas ao público em torno da obra dos artistas reunidos em Tarsila e o Brasil dos modernistas. A programação será aberta amanhã, às 16h, com a curadora Regina Teixeira de Barros. Os outros palestrantes são o professor de história da arte Marcos Hill (dia 19, às 19h); a escritora e artista plástica Ângela Lago (9 de junho, às 19h); o professor de história da arte Luiz Flávio Silva (16 de junho, às 19h); e a artista plástica Marilá Dardot (30 de junho, às 19h).

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