Imprudentes ou vaidosas?

07-04-2011 18:02

Afoitas por elogios, e por pele e cabelos perfeitos, mulheres desconsideram as “bulas” e enfrentam os riscos que os produtos cosméticos podem oferecer à saúde 

Por Mariana Medrano e Vítor Teixeira   

 

No início desse ano, uma modelo chinesa apresentou cálculos nos olhos devido ao uso excessivo de maquiagem. A garota usava diariamente diferentes tipos de cosméticos e, segundo os médicos, apresentou problemas por não limpar adequadamente a área do rosto que a maquiagem era aplicada. Muitas mulheres em todo o mundo ignoram os riscos que esses produtos podem apresentar. Muitos deles, como xampus, rímel, bases, tinturas e alisantes para cabelos, podem conter substâncias nocivas à saúde.

Uma pesquisa realizada pelo College of Optometrists, no Reino Unido, entrevistou 2.432 britânicas com mais de 16 anos de idade e constatou que o uso de maquiagens velhas também causa doenças, por ser um campo propício para a proliferação de bactérias.

Como forma de prolongar a vida útil das maquiagens, são adicionados a elas alguns conservantes, como, por exemplo, o parabeno. Segundo estudos, ainda em andamento, a substância que é utilizada em 90% dos cosméticos, contribui para o desenvolvimento do câncer em pessoas predispostas.

A concentração segura para o uso do parabeno foi regulamentada pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Mas, assim como a modelo chinesa, as mulheres não se limitam ao uso de apenas uma maquiagem. A modelo Jordana Ribeiro, diz que para os testes profissionais estar com a pele ”básica” é melhor, mas sempre que pode usa no rosto corretivo, base, pó, rímel e blush. Mesmo com o limite de conservantes respeitados em cada produto é o acúmulo que pode causar os problemas de saúde.

De acordo com a farmacêutica e esteticista Maria do Carmo Lara, existem produtos alternativos ao parabeno como, por exemplo, os de origem orgânica. Entretanto, “com a falta de um conservante nos cosméticos há mais facilidade desses produtos perecerem. Então, o usuário corre o risco de utilizar na sua pele um produto contaminado”, esclarece.

Outro comportamento que propicia o desenvolvimento de problemas na pele, relacionados à maquiagem, é a limpeza incorreta ou a falta dela. O uso frequente de pinturas não é, necessariamente, o motivo de doenças, mas assim com explica Maria do Carmo, se esses produtos não forem retirados do rosto, ao final de cada dia, a propensão à sensibilidade aumenta e as acnes cosméticas aparecem, já que os produtos entopem os poros e criam pequenos cravos.

A estudante Bárbara Zacaroni, não usa maquiagem diariamente, mas quando opta por aplicar os produtos conta que limpa a pele com água e sabão. A esteticista adverte que água apenas não basta: “para retirar a maquiagem é recomendado o uso de um demaquilante. Massagear o rosto e depois retirar o produto com um algodão úmido”. Não retirar a maquiagem também causa envelhecimento da pele. Segundo Maria do Carmo, “quando deixamos resíduos de maquiagem no rosto os poros são obstruídos e a pele deixa de respirar. Essa falta de oxigenação causa o envelhecimento”, ressalta.

Preocupada com a saúde da pele, a modelo Jordana acredita que o uso frequente das maquiagens afeta um pouco a pele, mas mantê-la sempre hidratada ajuda a diminuir o ressecamento, por exemplo. Além de marcas de qualidade, a modelo opta por escolher produtos com protetor solar, outro elemento que figura entre as soluções apontadas pela esteticista para afastar doenças e também o envelhecimento. “Já existem protetores para o sol que são acompanhados de bases para a pele. O fator de proteção solar 15 é o mínimo indicado. Isso vai variar com o tipo de pele de cada um.” Ela ainda alerta que assim como é feito com o filtro, a maquiagem também deve ser retocada.

Artifício

 

Mesmo usando a maquiagem de formas distintas, Bárbara e Jordana acreditam no poder que uma sombra, um rímel, o blush e até um simples gloss exerce na personalidade de cada mulher. Ao contar o processo de como se maquia, Bárbara enfatiza, a todo o momento, os produtos que utiliza nos olhos. “Uso nos olhos um delineador e uma sombra. Não tenho o hábito de pintar os lábios. Toda essa dedicação é uma tentativa de valorizar uma área que não é tão destacada no meu rosto. Meus olhos são pequenos, daí essa necessidade de artifícios”, confessa. Já Jordana assume que se sente bastante diferente quando está maquiada. “A maquiagem tem um incrível poder, ela coloca você como quiser: mais mulher ou mais menina”.

Para a psicóloga Izabel Haddad Massara, existe, inegavelmente, a construção de uma imagem da mulher a partir da maquiagem. A pintura concebe, ao mesmo tempo, uma forma de máscara, para atrair o olhar e um véu, que protege do mesmo. A maquiagem faz parte do que chamamos artifícios, principalmente em um país onde a cultura talvez seja um pouco exibicionista. Uma mulher pode se sentir mais segura ao lançar mão de detalhes como, por exemplo, um olho negro para a noite, que produz uma imagem mais marcante e agressiva, enquanto um brilho cor nude pela manhã cria uma imagem refrescante e inofensiva”, explica.

Jordana, que já desfilou para várias marcas de roupas famosas, nacionais e internacionais, confessa que, em algumas situações, a maquiagem chega a ser mais importante do que a indumentária das modelos. “Na passarela é só para dar uma vida à roupa, no estúdio fotográfico é para completar a roupa, no final de tudo a maquiagem é essencial nos dois”.

Toda essa tendência “padrão” incorporada por modelos nas passarelas, ou pelas atrizes na televisão, é reportada para a mídia e atinge pessoas em todo o mundo. Izabel, que pesquisa atualmente, para sua tese de doutorado, a teoria da feminilidade na psicanálise, na arte, na literatura e na moda, acredita que não há como negar o forte apelo da mídia em relação ao modelo de mulher a ser alcançado. “A mídia vende uma ilusão de mudança na imagem. Isso é muito sedutor, mas é um fato transitório, que não dura por muito tempo”, esclarece. Bárbara é uma das mulheres que já entenderam esse efeito momentâneo de mudança que a maquiagem fornece. Apesar não dispensar o uso das pinturas nos olhos, quando questionada sobre o que sentiria se tivesse que parar de usar maquiagem ela é enfática em sua resposta: “Nada”.

Impróprio para cabelos

Desde os anos 2000, os cabelos lisos lideram a moda e a preferência de grande parte do Brasil. Produtos cosméticos são uma das opções para o alisamento, assim como a escova, feita com o auxílio do secador e a chapinha. Entretanto, a duração do efeito liso é curta. É ai que surge a descoberta do formol, substância que, misturada a outros cremes, passou a ser solução para os cabelos rebeldes. O penteado que durava até a próxima lavada, passou a permanecer por cerca de seis meses ou mais. 

O elemento é usado normalmente como conservante ou anticéptico e aplicado para embalsamar cadáveres e dar firmeza a tecidos. Adicionado em esmaltes e xampus como conservante, o formol, ou formaldeído, começou a ser intensamente utilizado por cabeleireiros para o alisamento capilar. Pela lei federal (nº 6.437/77) a utilização do formol em cosméticos só é permitida para agir como conservantes e em baixas concentrações (0,2%). Porém, em 2005, 332 mulheres do Rio de Janeiro abriram reclamações na Vigilância Sanitária contra a chamada escova progressiva, técnica de alisamento que utiliza o formol. Segundo elas, o processo realizado em salões de beleza na cidade causou queda de cabelo, ardência nos olhos, queimaduras no couro cabeludo e problemas respiratórios.

A partir dessas queixas, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) se manifestou afirmando que nunca foi autorizado o uso de formol em alisantes de cabelo. Em julho de 2009, o Ministério da Saúde proibiu a venda de formol em estabelecimentos comerciais, como drogarias, farmácias, supermercados etc. Quem descumprir a resolução estará cometendo infração sanitária e pode ser punido.

A estudante Fernanda Oliveira, realiza o processo de alisamento há quatro anos e confia na palavra de sua cabeleireira, que garante não ultrapassar a quantidade permitida para uso do produto. “Como tenho problemas respiratórios, o formol em concentrações elevadas pode ser prejudicial à saúde. Preocupo-me em usar máscaras ou um pano úmido durante o processo”, destaca.  

De acordo com declarações publicadas pelo especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia Dr. Francisco Le Voci, o uso indevido do formol pode causar desde reações alérgicas, câncer e até o óbito. Dentre as principais reações adversas, as mais comuns, quando em contato com a pele, são irritação, vermelhidão e queimaduras na pele. Aos olhos, além dos já citados, o produto causa também lacrimação e visão embaçada. A inalação pode resultar em problemas ainda mais drásticos, como câncer no aparelho respiratório. Le Voci, que também é Coordenador do Ambulatório de Cabelos da Faculdade de Medicina do ABC (São Paulo), explica que o cheiro intenso é um dos principais sinais de manipulação incorreta do elemento. 

A estudante Isabella Barroso é outra adepta da escova progressiva. Ela relata que a preparação da mistura alisante é feita no próprio salão que frequenta. “Não sei a quantidade certa que é adicionada no preparo, já que o cabeleireiro adiciona o formol por conta própria. Sei dos riscos, mas sei também que sem o formol não há efeito nenhum”, alega. O especialista ressalta que somente pessoas treinadas e protegidas podem manipular o composto.  

Para o médico, é importante que a pessoa que se submete a esse tipo de procedimento observe se os frascos dos produtos apresentam o selo da ANVISA como garantia de aprovação. Para isso é necessário que o consumidor exija ver a embalagem do preparado. Com exceção do formol, Fernanda não mostra desconhecimento quanto aos outros ingredientes presentes no frasco do alisante. “Não tenho ideia dos componentes químicos que esses produtos contém. Só me preocupo em fazer um teste na primeira vez de uso, para ver se não vai prejudicar os meus cabelos. Se não acontecer nada, continuo aplicando normalmente”, admite. 

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